terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Poema: Baile mandado da terceira idade

Falar da chamada terceira idade, ou dos idosos ou dos séniores que é tudo a mesma coisa para não lhe chamarmos velhos. Porque a velhice é vista como um tempo de decadência onde se perderam todas as razões para viver plenamente.
Para contrariar essa visão derrotista, eu pretendi abordar neste poema alguns dos aspectos marcantes da velhice que são: a tristeza, a solidão, a morte, as insónias, as doenças e o facto de se ser velho.
Tudo isso foi aqui focado mas duma forma optimista e dando novo alento aos vencidos da vida. Pois devemos viver até morrer e o melhor possível, porque muita da nossa velhice foi interiorizada e aceite por nós.

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Só os mortos não se mexem
E não vão a nenhum lado

Não vão a nenhum lado
Não vão a parte nenhuma
O gato tem sete vidas
E eu tenho apenas uma

Foi na semana passada
Que a minha sogra morreu
Antes ela que a filha
E antes a filha que eu

Casou o viúvo com a viúva
Para curtirem seu desgosto
Uma pedra ampara a outra
É sempre bom ter um encosto

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Se désse ouvidos à tristeza
Passava a vida amargurado

Passava a vida amargurado
E a tristeza não ia acabar
Se désse ouvidos à tristeza
Passava a vida a chorar

Tristezas não pagam dívidas
Nunca tal coisa aconteceu
Ninguém paga as minhas dívidas
As minhas dívidas, pago eu

Quem canta seus males espanta
Vamos lá dançar e cantar
Enquanto o pau vai e vem
Estão as costas a folgar

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Quem tem insónias dorme de dia
C’um olho aberto e outro fechado

Veio a insónia visitar-me
E pôs-se a contar a sua vida
Não preguei olho toda a noite
Passei uma noite mal dormida

Voltou de novo a espertalhona
Não liguei pus-me a cantar
Vieram os vizinhos do prédio
E mandaram-me todos calar

Contei-lhes o sucedido
Eles fartaram-se de rir
Dormi o resto da noite
E eles ficaram sem dormir

Toca a andar, toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Se já estão fartos de mim
Vou cantar para outro lado

Vou cantar para outro lado
Vou cantar para outra banda
Quem tem pernas para andar
Diga lá...porque não anda?

No campeonato da 3ª idade
Não há jogo nem jogadores
Neste jogo, ninguém joga
Todos se queixam com dores

Dói aqui e dói ali
Dói em cima e dói em baixo
Ninguém tem mais dores que eu
Desculpe…mas eu não acho

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Anda o tolo a apanhar chuva
E diz que não fica molhado

Está um frio de rachar
Quero de novo cá o Verão
Vou escrever ao S. Pedro
Não quero mais Inverno, não

Veio o Verão e está calor
Passo todo tempo aflito
Vou escrever ao S. Pedro
Vou dar o dito, por não dito

Muda o tempo e tenho dores
Se não muda, tenho também
A culpa será mesmo do tempo
Ou é da idade que a gente tem

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Pensam os novos no futuro
E os velhos no passado

Vou fazer dieta de anos
Para a idade emagrecer
Fazer meio ano em cada ano
Para não envelhecer

Queria voltar a ser novo
Para fazer o que não fiz
Sabendo aquilo que sei hoje
Seria então, muito mais feliz

Quem não se poupa p'ra velhice
Chega a velho e velho está
Quem gasta tudo, o que tem hoje
Amanhã quer, mas já não há

2 comentários:

  1. Quem tem gosto para a rima
    passa a vida a versejar
    mesmo que a prosa lhe saia
    rima rima sem parar!

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  2. Muito obrigado Carolina pelo seu comentário, é sempre um gosto. Aproveitei também para espreitar o seu blogue, que já tem algum tempo de vida, o meu é novinho, tem um mês e por isso talvez esteja tão pobre comparando com o seu, de qualquer modo vá aparecendo que vou publicar mais poemas semanalmente e espero que goste, comente,é sempre bom saber a opinião dos outros, sobre aquilo que fazemos. Obrigado

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