quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Poema: Os amores imperfeitos

S. Valentim celebra o dia dos Namorados, pois este poema é dedicado aos divorciados. Os divórcios são hoje uma realidade, que não podemos ignorar, quer concordemos ou não, com eles.
Antes do 25 de Abril de 1974, havia poucos divórcios e os casamentos religiosos não o permitiam, mas a revisão da Concordata, veio permiti-lo. Há os que defendem a hipótese de voltar atrás, quando se erra e há os outros que defendem que o erro é para levar até à morte, como se a proibição do divórcio fosse um seguro de vida para os maus casamentos. Em tempos de rupturas, a sociedade acabará por encontrar novos equilibrios. Mas como dizia Camões: Mudam-se os tempos e mudam-se as vontades...
Este poema pretende falar desse novo estado civil: os divorciados.


Há o dia do Pai e da Mãe
E há o dia dos Namorados
Há o dia disto e daquilo, mas
Não há o Dia dos Divorciados

Há quem faça como a abelha
E passe a vida de flor em flor
Porque assim é que é viver
Porque assim é que é amor

Há quem veja no casamento
Boa ocasião para enriquecer
Mas como em tudo na vida
Ninguém joga, para perder

Vemos casamentos tão lindos
E tão cheios de contradições
Que mais parece um filme
Cheio de polícias e ladrões

Há quem procure no casamento
Mais que uma toca e um buraco
E veja no casamento uma mina
Onde vai poder encher o saco

Há casamentos tão bonitos
Que se desfazem numa hora
São como panelas de pressão
Que rebentam ou deitam fora

Alfaces, pepinos e tomates
Dão para fazer uma boa salada
Mas não se faz um casamento
Só com amor... e mais nada

Há casamentos que duram pouco
Dura o tempo que dura a festa
Mas depois é preciso lavar a loiça
E casamento assim? Não presta

Quem não se quer divorciar
Fique toda a vida solteiro
E se um dia resolver casar
Pense duas vezes, primeiro

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Poema: No meu tempo é que era bom

Este poema faz a abordagem dum tema, muito querido aos mais velhos,que é dizer que, o tempo deles, quando eram mais novos, é que era bom,mas, analisando bem as coisas, desse tempo vemos que não era assim tão bom.
Muitas vezes comparam esse tempo com os tempos de agora, que tem coisas melhores e coisas piores, mas parte dessa "maldicência" revelam um desajuste dos mais velhos aos novos tempos.

No meu tempo é que era bom
Diziam os velhos de outrora
Hoje, nós dizemos o mesmo
Aos nossos jovens, de agora

Que belos tempos foram esses
Que muitos de nós abandonámos
Tempo dos avós do pé descalço
Da pobreza e fome que passámos

Que havia de bom nesse tempo?
Éramos novos e havia ambição
Queríamos uma vida melhor
Que a vida, que tinhamos então

Já não vemos crianças na rua
Dizia-me um amigo preocupado
Elas estão fechadas em casa
E o computador, é o culpado

É preciso ensinar as crianças
A jogar a bola e ao pião
Tal como fazíamos na infância
Mas computadores? Isso não!!!

Pôr as culpas no computador
Essa é de bradar aos céus
É como querer, que toda a gente
Volte de novo, a usar chapéus

Há outras razões para isso
Basta olhar à volta e ver
Os casais quase não têm filhos
E não há condições para os ter

Onde estão as mães de hoje?
Trabalham para ajudar a família
Ajudam a pagar a casa e o carro
A creche, a escola e a mobília

Onde estão as ruas e os jardins ?
Os passeios que eram do peão?
Não há, estão cheios de carros
Então? Há mais culpados ou não?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Poema: Baile mandado da terceira idade

Falar da chamada terceira idade, ou dos idosos ou dos séniores que é tudo a mesma coisa para não lhe chamarmos velhos. Porque a velhice é vista como um tempo de decadência onde se perderam todas as razões para viver plenamente.
Para contrariar essa visão derrotista, eu pretendi abordar neste poema alguns dos aspectos marcantes da velhice que são: a tristeza, a solidão, a morte, as insónias, as doenças e o facto de se ser velho.
Tudo isso foi aqui focado mas duma forma optimista e dando novo alento aos vencidos da vida. Pois devemos viver até morrer e o melhor possível, porque muita da nossa velhice foi interiorizada e aceite por nós.

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Só os mortos não se mexem
E não vão a nenhum lado

Não vão a nenhum lado
Não vão a parte nenhuma
O gato tem sete vidas
E eu tenho apenas uma

Foi na semana passada
Que a minha sogra morreu
Antes ela que a filha
E antes a filha que eu

Casou o viúvo com a viúva
Para curtirem seu desgosto
Uma pedra ampara a outra
É sempre bom ter um encosto

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Se désse ouvidos à tristeza
Passava a vida amargurado

Passava a vida amargurado
E a tristeza não ia acabar
Se désse ouvidos à tristeza
Passava a vida a chorar

Tristezas não pagam dívidas
Nunca tal coisa aconteceu
Ninguém paga as minhas dívidas
As minhas dívidas, pago eu

Quem canta seus males espanta
Vamos lá dançar e cantar
Enquanto o pau vai e vem
Estão as costas a folgar

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Quem tem insónias dorme de dia
C’um olho aberto e outro fechado

Veio a insónia visitar-me
E pôs-se a contar a sua vida
Não preguei olho toda a noite
Passei uma noite mal dormida

Voltou de novo a espertalhona
Não liguei pus-me a cantar
Vieram os vizinhos do prédio
E mandaram-me todos calar

Contei-lhes o sucedido
Eles fartaram-se de rir
Dormi o resto da noite
E eles ficaram sem dormir

Toca a andar, toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Se já estão fartos de mim
Vou cantar para outro lado

Vou cantar para outro lado
Vou cantar para outra banda
Quem tem pernas para andar
Diga lá...porque não anda?

No campeonato da 3ª idade
Não há jogo nem jogadores
Neste jogo, ninguém joga
Todos se queixam com dores

Dói aqui e dói ali
Dói em cima e dói em baixo
Ninguém tem mais dores que eu
Desculpe…mas eu não acho

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Anda o tolo a apanhar chuva
E diz que não fica molhado

Está um frio de rachar
Quero de novo cá o Verão
Vou escrever ao S. Pedro
Não quero mais Inverno, não

Veio o Verão e está calor
Passo todo tempo aflito
Vou escrever ao S. Pedro
Vou dar o dito, por não dito

Muda o tempo e tenho dores
Se não muda, tenho também
A culpa será mesmo do tempo
Ou é da idade que a gente tem

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Pensam os novos no futuro
E os velhos no passado

Vou fazer dieta de anos
Para a idade emagrecer
Fazer meio ano em cada ano
Para não envelhecer

Queria voltar a ser novo
Para fazer o que não fiz
Sabendo aquilo que sei hoje
Seria então, muito mais feliz

Quem não se poupa p'ra velhice
Chega a velho e velho está
Quem gasta tudo, o que tem hoje
Amanhã quer, mas já não há

Poema: Unisexo, é pró menino e prá menina

Vivêmos 50 anos um tempo demasiado parado, agarrados a preconceitos que tornaram as nossas vidas cinzentas, seguiu-se um período de revolução política que libertou muitos dos nossos sonhos e veio alterar os modos de vida.
A emancipação da mulher teve um aliado no pronto a vestir que rapidamente se impôs e ditou as suas leis. Todas essas mudanças, e o ritmo a que foram feitas, vieram baralhar as nossas referências. É esse tema que aqui é tratado neste poema.

Deu numa grande confusão
A emancipação feminina
Já quase não há distinção
Entre o menino e a menina

Com a moda do unissexo
As roupas, são todas iguais
Tudo é fabricado em série
Fabricar em série rende mais

Os rapazes usam calças
E as meninas, usam também
A mãe, usa as calças do pai
E o pai, usa as calças da mãe

Já quase não há diferenças
Entre a fêmea e o macho
Só despidos é que sabemos
Aquilo, que está por baixo

Cabelos curtos ou compridos
Tanto usam eles, como elas
Há cada vez menos diferenças
Entre os tachos e as panelas

Dantes, usavam elas brincos
Hoje, usam eles os manganões
Eles usam os brincos delas
Mas que grandes brincalhões

No passado, só ela se depilava
Hoje, também ele faz depilação
Se acabam com as diferenças
Também se acaba a atracção

Procura o homem na mulher
Aquilo que o homem não tem
Mas se ambos forem iguais
Ninguém, procura ninguém

Respeito e igualdade, sim!
Mas igualdade nos corpos? Não!
Continue a mulher a ser menina
E o homem continue a ser rapazão