quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Poema: O centenário da fábrica de tachos da República

Comemorou-se no dia 5 de Outubro a Implantação da República, facto que para todos nós pertence ao passado e que a muitos diz pouco.
Por isso achei melhor apresentar o Centenário da "fábrica" que "fabrica" tachos e que chegou até aos nossos dias com todas a vicissitudes do mercado e da gestão dificil num mundo globalizado, a história da fábrica, corre paralela à história do país e por isso há grande coincidência de factos que afectam ambos. Como a "fábrica" ainda se mantêm em laboração é fácilmente reconhecida por todos nós e a todos nós diz respeito como contribuintes. Foi para comemorar o centenário da dita "fábrica" que fiz este poema.

A República fabrica tachos
Como fabricava a monarquia
Mas fábrica que gasta demais
Pode ir à falência qualquer dia

Assim aconteceu na monarquia
A Real Fábrica de tachos faliu
Houve despedimentos e tudo
Mas logo a República a abriu

Era a maior fábrica de então
Dos bons tempos antanhos
Só entrava a elite da nobreza
Como o Conde de Abranhos

Mas o bem, não dura sempre
O mercado, já não é referência
A procura é maior que a oferta
A fábrica, um dia vai à falência

E para satisfazer a procura
Abriram um série de sucursais
Institutos e empresas públicas
Já não chegam, querem mais

O Estado somos, todos nós
Ouvimos dizer tantas vezes
Cada eleitor é um pagante
Dos reais tachos portugueses

Há profissionais do tacho
Que servem a dois senhores
Voam de partido em partido
Como abelhas, entre flores

Na vida há sempre um mas
E um dia, é que vão ser elas
É fácil enganar o Zé Povinho
Mas não se engana Bruxelas

Vem aí a China endinheirada
Comprar a fábrica portuguesa
Quer lá todos os portugueses
A trabalhar, à moda chinesa

Poema: Nasceu um buraco na minha rua

Chegam as primeiras chuvas e começam a aparecer os buracos, que os carros vão alargando e alagando, quem perto deles passar distraído.
Os peões são o alvo preferido de condutores brincalhões ou distraídos, por isso cabe ao cidadão alertar as entidades competentes para taparem os ditos buracos.
O tema não tem nada de póetico, mas pode ser uma forma mais eficaz, de sensibilizar as entidades competentes. Espero que gostem.

Nasceu um buraco na minha rua
Disse logo profético ao nascer
Quando for grande quero ser
Muito importante, vocês vão ver

Quis tapar a boca ao buraco
Participei à junta, fiz o meu dever
Não o tapavam, era pequenino
Tinha ainda muito que crescer

O buraco que era pequenino
Tão pequenino que mal se via
Fez-se depressa um buracão
Cresceu da noite para o dia

Até os carros topo de gama
Abrandavam por ele ao passar
Só por cuidado, não por respeito
Não fosse o carro se estragar

Mas com o passar do tempo
Tornou-se o buraco arrogante
Via os carros passar devagar
Já se julgava muito importante

Insisti com o presidente da junta
Isso era das suas competências
Até pode haver um acidente
Precisa de tomar providências

O presidente não ligou nenhuma
Buracos? é coisa que não falta
Para quê perder o seu tempo
Porque um buraco chateia a malta

Mas um dia passou o presidente
A alta velocidade, sem atenção
Rebentou-lhe o pneu e capotou
Vieram logo jornais e televisão

Sentiu-se o buraco importante
Com tanta atenção e cuidado
E o buraco que chateava a malta
Foi logo nesse momento, tapado

domingo, 12 de setembro de 2010

Poema: Bodes expiatórios

Depois dos resultados obtidos no Mundial de Futebol, é chegada a hora do ajuste de contas, é preciso encontrar um culpado para os maus resultados obtidos.
Já fiz uma poema sobre isso, a que chamei: "O Sucesso mínimo garantido",mas como a novela continua e a procura dum bode expiatório cai sobre o treinador, acho oportuno este poema que foi escrito em Outubro de 2009.
Em plena crise económica e social, parece ser este, o problema principal do país.

Passar as culpas aos outros
Já vem de longe, do antigamente
Para acalmar a ira dos deuses
Matámos muito animal inocente

As culpas queimam como brasas
E foge das culpas, o culpado
Quem tem culpas logo as passa
Para o vizinho, que está ao lado

Quem faz o mal, defende-se
Desviando de si a atenção
Acusa quem vai a passar
Com manobras de diversão

Em pequenino aprendemos
A mentir para nos desculpar
É assim que fazem os adultos
Quando eles, se querem safar

A vida é tal e qual um jogo
Onde todos querem ganhar
Quem perde, é o pião das nicas
E sobre ele, todos vão atirar

Quem dá parte de fraco
Torna-se o bombo da festa
Todos lhe malham em cima
E fugir é a saída que resta

Para calar as vozes de protesto
Quando as coisas ficavam bravas
Arranjava-se um bode expiatório
Alguém que fosse pagar as favas

Todos têm direito à defesa
Todos devem ter advogado
Todo o homem é inocente
Até que se prove, culpado

Há sempre um bode expiatório
Muro das nossas lamentações
Onde possamos descarregar
As nossas culpas e frustrações

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Poema: Matar na estrada não é crime

Chega o Verão e aumentam o número de desastres na estrada, não são acidentes como lhe chamamos, a maioria deles não acontecem por acaso, eles são um desastre para as vítimas, eles destroem vidas e famílias.Os seus causadores, muitas vezes, continuam alheios ao mal que fizeram, e continuam a conduzir impunemente, é urgente chamar os bois pelos nomes e atribuir as responsabilidades aos causadores destes crimes, a sociedade não pode continuar a ver morrer jovens e adultos, sem que nada se faça para contrariar esse flagelo. É disso que falo no meu poema.

Matar na estrada não é crime
Mesmo de forma negligente
Matar a tiro é homicídio
Matar na estrada é acidente

Com esta dualidade de critérios
Mata-se na estrada à vontade
E há tanta condução criminosa
Confiante da sua impunidade

Se quem matasse na estrada
Passasse um tempo na prisão
No futuro teria mais cuidado
E conduzia com mais atenção

Há condutores, como há peões
Portam-se como pessoas tontas
Não tem respeito por ninguém
Mas ninguém, lhes pede contas

Há comportamentos criminosos
De homicidas em potência
Matam e continuam a conduzir
Sem problemas de consciência

Não há castigo para tal crime
A família sente-se injustiçada
Morre o morto duas vezes
E o homicida, não sofre nada

Passar na passadeira não é
Um lugar seguro para o peão
Há ali tantos atropelamentos
Que até parece, contradição

Atribuem-se tantas medalhas
Por serviços prestados à Nação
Também os maus condutores
Deviam usar uma distinção

Se acham injusta tal medida
Arranjem outro tipo de sanção
Quem matasse na estrada
Seria posto fora da circulação

Poema: Pobreza é ficar indiferente

Em tempo de crise, crescem as dificuldades e a pobreza também, é preciso despertar as consciências para o fenómeno da pobreza, ela existe e deve de ser combatida, no ano de combate à pobreza, pobreza é ficar indiferente, não basta matar a fome a quem tem fome é preciso ir às causas do fenómeno.
A pobreza é uma violação dos direitos humanos, é disso que falo neste poema, no ano Internacional de Combate à Pobreza.

São castelos sem muralhas
Os novos condomínios fechados
Têm câmaras de vigilância
Espalhadas por todos os lados

Moram lá dentro as divindades
E os adoradores do dinheiro
Sócios de anónimas sociedades
Que dominam o mundo inteiro

Mas o dinheiro não tem pátria
Corre, não pára um momento
Para satisfazer a sede de lucro
E para rentabilizar o investimento

As empresas têm de ter lucros
A injustiça está na distribuição
A maioria recebe muito pouco
Poucos, recebem a parte de leão

Com tanta riqueza acumulada
Cresce a pobreza e desigualdade
Mas os ricos não se importam
Com a pobreza na sociedade

E para acalmar as consciências
Dizem que pobreza é tradição
E não se mostram incomodados
Com aqueles que não têm pão

Vivem fechados a sete chaves
E viajam em carros blindados
O medo, refugia-se em castelos
Dos novos condomínios fechados

Fecham-se portas e janelas
E fecham-se as consciências
Não há olhos, nem há ouvidos
Para as gritantes, carências

Pobreza, é ficarmos indiferentes
À pobreza, que há à nossa volta
É assistir a tudo, sem fazer nada
E não sentir cá dentro, a revolta

Poema: a minha poesia não é minha

Não é muito costume os poetas falarem da sua poesia. Cabe aos outros falarem dela, mas como há muitos leitores que insistem em chamar-me poeta e a porem-me nos píncaros da lua.
Eu estou apenas a aprender, eu escrevo para os outros, sou um poeta livre, não uso regras nos poemas, para mim o mais importante é a mensagem que quero transmitir. Neste poema eu falo do que entendo por poesia e como ela deve de ser, sem desprimor para outras formas de poesia, que respeito.
Serão sempre os outros a avaliar a valia dos meus poemas, neste poema eu falo disso mesmo.

A minha poesia não é minha
É de quem, quiser ler e escutar
É uma sombra que se oferece
A quem perto dela, se abeirar

Quando o poema tem valor
Não deixa ninguém indiferente
Poema é luz que alumia todos
E tem de mexer com a gente

É como a chuva bem chovida
E não, como chuva de enxurrada
Que arrasta tudo e tudo arrasa
Mas a terra, não absorve nada

O poema não é um labirinto
Onde não sabemos a saída
O poema deve falar claro
Deve de dar, sentido à vida

A poesia não é um código
Que poucos sabem entender
Eu escrevo poesia para todos
Poesia fácil de compreender

Não digo poemas por dizer
Quem fala, quer ser ouvido
Só as conversas de surdos
Não fazem qualquer sentido

O poema é como água corrente
Que se oferece a quem passar
Não é água em poço profundo
Onde poucos, lá podem chegar

Não faço poemas para mim
São para quem os quiser ler
Falo do que interessa a todos
E para todos, estou a escrever

Não quero fazer poemas à pressa
Com pressa de ver obra acabada
Pior que não fazer nada, é fazer
Poemas que não nos dizem nada

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Poema: Este fogo que nos consome

Falar de Verão é falar de calor e de fogos, que chegam todos os anos, com o calor do Verão e destroiem parte da nossa riqueza florestal e são motivo de notícia que enchem os nossos jornais?
Parece uma fatalidade imparável, não haverá forma de travar este flagelo?
É sobre os fogos que trato neste poema.


Este fogo que nos consome
Logo que começa o Verão
São o casamento infeliz
Do desleixo e desorganização

Tanto esforço, tanta canseira
Dos bombeiros para nada
De que serve trancar a porta
Depois da casa arrombada?

As matas, não são limpas
Os donos não querem saber
As aflições vêm depois
Quando, não há nada a fazer

Todos os anos se repete
Este nosso triste fado
Este ano, vai arder o resto
Que sobrou do ano passado

Construir dentro das matas
Ou junto das areias do mar
É pela imprudência de alguns
Que vamos todos, ter de pagar

Qualquer fumador sem pensar
No mal que pode fazer
Deita um cigarro mal apagado
E põe uma floresta a arder

No Verão há festas e há fogos
Há foguetes a anunciar a festa
Tocam os bombeiros aflitos
Começou a arder a floresta

E até há quem ponha fogo
Para ter espectáculo para ver
Corre o povo numa aflição
É bonito...deixa arder!

Andamos há tantos anos nisto
Mas ninguém quer aprender
Que o melhor combate ao fogo
Faz-se, antes de começar a arder

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Poema: Há só uma Terra

O ambiente é cada vez um tema mais actual e inquieta-nos a todos, mas mais do que o medo que isso pode despertar, ele deve, despertar as consciências e levar-nos a fazer alguma coisa. A Terra é a nossa casa, a destruição do nosso habitat põe em perigo a existência da humanidade é dever de todos dar as mãos para resolver este urgente problema, e não adianta escondê-lo, as consequências são cada vez mais evidentes, é tempo de agir. Foi a pensar nisso que eu fiz este poema.

Deus fez do mundo um paraíso
E à sua imagem criou o homem
E os homens criaram a poluição
À imagem daquilo que consomem

Um mal repetido, todos os dias
Cresce, aumenta e perdura
Mas tudo se paga neste mundo
É tempo de pagarmos a factura

Em nome da liberdade, de fazer
Fizemos,o que nos deu na gana
Como sendo donos do mundo
Mas a verdade,nunca se engana

Poluímos o ar, o solo, os rios
E fizemo-lo inconscientemente
Convencidos que este paraíso
Durava toda a vida, eternamente

As alterações climáticas não são
Invenções de coca-bichinhos
São hoje uma dura realidade
Para ver se abrimos os olhinhos

Vão dizer em toda a parte
Escrevam em letras garrafais
A poluição está a matar-nos
Digam isto em todos os jornais

Deram-nos futebol e telenovelas
Fizeram tudo para nos entreter
O mal não está nas telenovelas
Mas naquilo que andam a esconder

São motores desta sociedade
O lucro, o poder e a abastança
São os 3 cavaleiros do apocalipse
Não são, cavaleiros da esperança

Temos todos de dar as mãos
E resolver este problema global
Porque ou nos salvamos todos
Ou morremos todos deste mal

domingo, 20 de junho de 2010

Poema - O sucesso mínimo garantido

Depois de ter visto o empate da selecção portuguesa de futebol no Mundial, ocorreu-me fazer este poema, onde vou falar das fragilidades, onde assenta a nossa esperança em êxitos, que nos farão felizes para sempre.
Ora é aí que bate o ponto, nós estamos convencidos que tudo é simples e tudo se realizará conforme os nossos desejos, e que as nossas falhas serão resolvidas com o nacional-porreirismo de sempre, mas uma coisa é dizer e outra é fazer, é disso que eu falo neste poema.

Somos os melhores do mundo
Porque a malta é desenrascada
Nós, exigimos tudo dos outros
Mas de nós, não exigimos nada

Com o nosso desenrascanço
Ninguém nos pode ganhar
Desenrasca-se o enrascado
Porque se deixou enrascar

Neste reino de mediocridade
Quem faz bem, é quem faz mal
A balda é a causa do insuceso
Que nós temos em Portugal

Somos avessos à organização
De que este país, é o espelho
Passamos a vida a atamancar
E fazer coisas, em cima do joelho

Perdemos tempo a fazer leis
Que ninguém, vai cumprir
É como apregoar a verdade
Onde todos andam a mentir

Sabemos que errar é humano
Mas insistir no erro, é burrice
É ver o erro, e não fazer nada
Como se o erro, não existisse

Não somos um povo falhado
Temos de parar para pensar
Porque se há algo de errado
Temos o dever do emendar

Deitamos foguetes antes da festa
Como se fossem favas contadas
Contamos com o ovo, na galinha
E depois, as contas saem furadas

Mas se não mudarmos de atitude
Temos o futuro comprometido
Não arranjem mais desculpas
O sucesso mínimo, está garantido

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Poema: Carta a Santo António

Estamos no mês dos Santos Populares e um pouco por todo o país há festejos em sua homenagem. No ano de 2008 eu escrevi esta Carta a Santo António em que relato os assuntos dessa época, que continuam presentes nos dias de hoje e muitos deles são alvo de polémica, dada a situação financeira do país.

Santo António de Lisboa
Tu nem sabes o que vai nela
Vão fazer um novo aeroporto
E acabar, com a Portela

Uns, querem-no na Ota
E outros, em Alcochete
Para ficarem perto de casa
Para pouparem no bilhete

Também vão fazer um TGV
Para o país andar mais veloz
Para irmos todos mais depressa
Comprar caramelos em Badajoz

Vão fazer uma nova ponte
Mas já vieram vozes a terreiro
Uns querem a ponte p'ró Montijo
E outros querem p'ró Barreiro

Santo António de Lisboa
A tua cidade está diferente
Fazem cada vez mais casas
E cada vez, tem menos gente

Vão fazer estas obras todas
Para ligar o país à CEE
Metade da conta, pagam eles
E a outra metade, paga o Zé

Já levámos o Metro a S.Apolónia
Para a rede, não ficar manca
Com o dinheiro que gastámos
Levávamos o Metro a Vila Franca

Mas se as contas derraparem
Como noutras vezes aconteceu
Desta vez, nós não pagamos
Mandamos a conta para o céu

Oh meu Santo António
Oh meu Santo milagreiro
Diz lá como é que a gente
Vai arranjar tanto dinheiro!

Poema: A selecção dos outros

É tempo do Mundial de futebol e não se fala noutra coisa, senão na nossa Selecção. Mas não é dessa selecção, que eu vou falar, mas sim doutras selecções, de que não se fala e que nos fazem ao longo da vida e que muitas vezes trazem conflitos no relacionamento interpessoal, é dessa selecção que eu falo neste poema.

Não falo da selecção de futebol
Que é de todas a mais conhecida
Vou falar de outras selecções
Que nos fazem ao longo da vida

Nós temos dificuldade em lidar
Com o que é novo e diferente
E precisamos de pôr um rótulo
Para identificar toda a gente

Se aparecemos num lugar
E vamos lá pela primeira vez
Ouvimos vozes a cochichar
E olhares inquiridores de viés

Esperam as moças casadoiras
Pelo seu príncipe encantado
Perguntam excitadas, quem é?
Com seu ar desinteressado

Os políticos influentes da terra
Também eles querem saber
Se é nosso ou da oposição
Para saberem, como proceder

Até as beatas, com seu ar sisudo
Vão saber do recém-chegado
Será temente a Deus? ou não?
Ou será um Belzebu disfarçado?

É assim ao longo de toda vida
Onde quer, que nós vamos ter
Somos logo avaliados e rotulados
Para todas as dúvidas desfazer

É desta maneira que começa
Toda a sorte de discriminações
Que assentam quase sempre
Na ignorância e em suposições

Mas se ainda não temos rótulo
E se persistem dúvidas gerais
Vasculham-nos a vida toda
Porque, querem saber mais

domingo, 30 de maio de 2010

Poema: Os salvadores do mundo

É em tempos de crise, que aparecem mais profetas e salvadores, é como se estivessem à espera do momento para aparecerem, mas é também, quando eles são mais escutados e desejados.
Mas eles não são deuses, são humanos, mas prometem muitas vezes, mais do que podem fazer.
Muitas pessoas, vêem neles os Messias e esperam deles demasiado, acabando muitas vezes desiludidos com as suas promessas. Mas como em tudo na vida, é preciso ver claro, para não cair em enganos. É sobre os salvadores do mundo que vou falar neste poema.

O mundo está cheio de profetas
Salvadores da pátria e do mundo
Prometem salvar a humanidade
Tudo muito rápido,num segundo

São homens, não são deuses
Fazem da salvação o seu lema
Querem salvar o mundo todo
Rápido, como se faz no cinema

Fazem da palavra uma espada
Que nos há-de levar à salvação
Palavra sem acção, é só teoria
E só teoria, nunca fez revolução

Prometem salvar a Pátria
E até salvar o mundo todo
Que este mundo não presta
Está a afundar-se em lodo

Havia dois regimes diferentes
Cada um, a puxar para seu lado
Um regime, já foi à falência
E o outro, está muito arruinado

Quiseram fazer um Paraíso
Fechado como um convento
E contra a vontade do povo
Meteram o povo, lá dentro

Cristo, Maomé e Abraão
Hitler, Estaline e Salazar
Todos vieram ao mundo
Com a missão do salvar

E em nome da igualdade
Criaram desigualdade maior
Os ricos, ficaram mais ricos
E os pobres ficaram ainda pior

Quando eu vim a este mundo
Já tudo fora dito para o salvar
Aquilo que falta mesmo fazer
É deitar mãos à obra e trabalhar

Poema: A crise dum modo de vida insustentável

Fala-se hoje, muito de crise e das dificuldades que temos para a ultrapassar.
Mas o que é uma crise?
As crises são desajustamentos entre o que se fez e o que se deveria ter feito. Quando crescemos, as roupas ficam curtas e isso obriga-nos a fazer ajustamentos que implicam mais despesas e também mais sacrifícios, são as crises de crescimento.
Mas no caso da crise económica que atravessamos, ela foi devida a erros cometidos por alguns e que atingem a todos, foram feitas coisas que não deveriam de ter sido feitas e que não podem continuar a ser feitas.
Não vou aqui falar dos culpados, isso será abordado num outro poema. Agora temos de corrigir esses erros e tornar o nosso modo de vida mais sustentável. Foi essa abordagem que quis fazer neste poema.


Erros meus, má fortuna
Ou má cabeça simplesmente
Fizemos vidas impossíveis
Que a vida, não consente

Ninguém pode dar o salto
Maior, que a perna que tem
Não se pode gastar tudo hoje
Pode fazer falta, amanhã

Quem não tem asas para voar
Só deveria de andar a pé
Porque todos querem ser iguais
Mas a vida mostra, que não é

Navegámos na crista da onda
Parecia dinheiro em caixa
Mas a vida, tal como a maré
Umas vezes sobe e outras baixa

Provámos todos os excessos
Com o entusiasmo duma criança
Julgámos ter o mundo na mão
Mas a vida, é feita de mudança

Vivêmos tempos de abundância
Tivemos o que nunca tivemos
Fizemos o que não devíamos
E o que devíamos, não fizemos

Não respeitámos os limites
Atrás da felicidade prometida
Sonhámos demasiado alto
E esquecemos a própria vida

O que importa não é a queda
Há que levantar e prosseguir
Dar passos certos e seguros
Para não voltarmos a cair

Agora para enfrentar a crise
Ninguém perca a esperança
Vamos começar tudo de novo
Como nos tempos de criança

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Poema: Moto 4 o todo-o-terreno dos pobrezinhos

Quem gosta de passear pelos campos, é muitas surpreendido pela aparição inesperada de grupos barulhentos de motos e motos 4, vindos não se sabe bem donde, impossível de passarem despercebidos de tão barulhentos que são e que deixam um rasto de destruição nos caminhos à sua passagem e da perturbação que fazem naqueles que procuram no campo um pouco de sossego.
Infelizmente parece ser mais uma moda que veio para ficar.
Apesar dos alertas dos ambientalistas, para a necessidade de reduzir os gases de efeito de estufa, nada trava estes novos cavaleiros do Apocalipse.
Foi a pensar neste fenómeno que eu fiz este poema.

No Portugal dos pobrezinhos
Quem não tem cão, caça com gato
Quem tem dinheiro, anda de jipe
Quem não tem, anda de moto 4

Fujam que vêm aí os bárbaros
Atravessando muros e valados
De moto, jipe e moto quatro
Vêm, mas não são desejados

Vêm em grupos barulhentos
Cavalgando demónios à solta
Eles deixam nos camponeses
Muitos sentimentos de revolta

Passam como cães raivosos
Rosnando por vinha vindimada
Destroem caminhos e campos
De bom, eles não trazem nada

Roncam motores pelas serras
Montes e vales do meu país
Poluição e alterações climáticas
Isto para eles, nada lhes diz

Não respeitam a Natureza
Embora digam dela gostar
Aqueles que amam a Natureza
Vêm de bicicleta ou a caminhar

Quem ama a Natureza
Não assusta os animais
Não destrói seus habitats
Com visitas prejudiciais

Venham a pé ou de bicicleta
Venham apreciar a Natureza
Venham respirar o ar puro
O silêncio e a sua beleza

Eles não sabem, nem sonham
O mal que à Natureza fazem
Deixam um rasto de destruição
Eles estão a mais, na paisagem

sábado, 8 de maio de 2010

Poema: Corpo presente, espírito ausente

Esta sociedade em que vivemos, super individualista, está a criar novos tipos de pessoas, que até aqui eu não tinha visto. A sociedade tornou-se tão competitiva e violenta, que as pessoas tentam evadir dela e assim, no seu dia-a dia, elas vão criando um casulo, um mundo à parte, onde só elas tem lugar.
Isto é a negação da essência do ser humano. O ser humano é um ser eminentemente social e só em sociedade pode sobreviver, por isso comportamentos destes, não fazem sentido à luz desse princípio, é sobre isso, que eu falo neste poema.

Caminham sós pelas ruas
A nosso lado, à nossa frente
São corpos de carne e osso
Mas têm o espírito ausente

Vivem em grandes cidades
Nos seus mundos imaginários
As cidades estão cheias
Destes indivíduos solitários

São homens e mulheres
Jovens de ouvidos tapados
Quem são? Para onde vão?
Estarão perdidos ou achados?

Viajam de metro e autocarro
De auscultadores nos ouvidos
Ouvem música celestial
Parece que andam perdidos

Tamborilam os dedos
Marcam ritmos invisíveis
Riem-se de coisa nenhuma
E caminham, insensíveis

Dirigem-se para o Além
Andam e falam sozinhos
Riem-se para ninguém
Parecem mesmo tolinhos

Vivem num mundo pequenino
Onde não cabe mais ninguém
Como vieram a este mundo?
Tiveram pai? Tiveram mãe?

No seu andar sonâmbulo
Olham sem ver ninguém
Vão agarrados ao telemóvel
Estão a falar para o Além

Passam por nós nas ruas
Num alheamento profundo
Parecem viver nas nuvens
Não pertencem a este mundo

domingo, 2 de maio de 2010

Poema: Que qualidade de vida é esta?

Quando o homem ultrapassa o limiar da sobrevivência, quando estão assegurados os níveis mínimos aceitáveis para uma vida condigna. O homem começa a questionar outros parâmetros como a qualidade de vida. É que não basta viver, é preciso que essa vida tenha qualidade, para isso, temos de parar para pensar que qualidade de vida temos no nosso dia-a-dia. É isso que eu procuro reflectir neste poema.


Trabalhas de dia e de noite
Para satisfazer a ânsia do ter
Que ganhaste tu com isso?
Já conseguiste enriquecer?

És um escravo do trabalho
Vives uma vida stressada
Cultura, afectos e convívio
Não tens tempo para nada

Vêm as férias, é um descanso
Depois do ano inteiro a trabalhar
Mas tu não sais, ficas em casa
O dinheiro, não dá para passear

Déstes coisas, em vez de afectos
Teus filhos, já têm coisas a mais
Que ganhaste tu com isso?
Amanhã, eles vão amar-te mais?

Compraste um carro mais caro
Para andares mais depressa
Que ganhaste tu com isso?
Já deixaste de andar à pressa?

Também compraste uma casa
Em vez de uma casa de arrendar
Que ganhaste tu com isso?
Trabalhar toda a vida p'rá pagar

Podia ser uma casa de renda
Onde tu te sentisses bem nela
Tens uma casa só para dormir
Passas todo o tempo fora dela

Prometeram-te qualidade de vida
Tu acredistaste que era verdade
Que qualidade de vida é esta?
Viver uma vida sem qualidade

Todo o sistema está montado
Para que não te possas libertar
Aquilo que te dão com uma mão
Com a outra mão, te o vão tirar

Poema: Vivemos uma vida de enganos

Parece um paradoxo, mas muitas das nossas convicções, assentam em crenças, mitos, ou aparências que estão longe da verdade. Há mesmo pesoas autoconvencidas serem donas da verdade, e assim vivem convencidas. Porque como diz o ditado que nem tudo o que brilha é ouro, também na nossa vida nem tudo o que pensamos que é, realmente é. Acerca disso eu fiz este poema.

Vivemos uma vida de enganos
Segundo o nosso parecer
As coisas não são, o que são
São aquilo, que parecem ser

Enganam-se os gulosos
Com papas e com bolos
Só para encherem a barriga
Até fazem figura de tolos

Há quem diga que os favores
Não custam nada, é uma ilusão
Os favores pagam-se toda a vida
Os favores, custam um dinheirão

O hipócrita tem duas caras
Para agradar a toda a gente
Hoje, diz uma coisa por trás
Amanhã, diz outra pela frente

O mentiroso é um fingidor
Mente e jura pela alma da mãe
Até dá a sua palavra de honra
Da honra, que ele não tem

Conta o Vigário que vai perder
Tudo o que o Otário, pode ganhar
Perde o Otário, porque acredita
Que o Vigário, se deixa enganar

Quem exige tão pouco de si
Não devia de levantar a voz
Quando exigimos tudo dos outros
Deveríamos começar, por nós

O reconhecimento é um espelho
Onde vemos a nossa imagem
Todos querem ser reconhecidos
Ninguém quer ficar à margem

Mas quantas guerras se travam
Em nome da justiça e da razão
Quantos interesses se escondem
Por detrás duma boa intenção?

Poema: O sonho da paz universal

É de todos os tempos este desejo de paz universal, contudo toda a história do homem é marcada por uma sucessão de guerras sem fim. Há quem pense, que sempre assim foi e que sempre assim será, mas isto não será derrotismo e falta de empenho na procura de melhores formas de convivência entre os povos? Para todos os que acreditam, que um novo mundo é possível, eu escrevi este poema.

A paz universal é um sonho
Dos homens de boa vontade
Mas ainda há quem discorde
Desse sonho da humanidade

Mesmo as próprias religiões
Que apregoam a paz e o amor
Tiveram ao longo da sua história
Períodos de fanatismo e terror

E até no mundo animal
Há cenas de grande violência
É a evolução das espécies
Na luta pela sobrevivência

Uma sociedade que endeusa
O dinheiro como rei e senhor
Está longe de ser um paraíso
Onde se vive em paz e amor

A sociedade que vive do lucro
E que promove a competição
Não é uma sociedade de paz
Aquela onde se luta pelo pão

Dizer que sempre foi assim
E que não há nada a fazer
É concordar com as injustiças
E fechar os olhos, para não ver

O mal de uns é o bem de outros
Ouvimos dizer em vários tons
Mas o que mais choca nisto tudo
É o silêncio dos homens bons

Quem faz a guerra, não tem paz
Que a paz, não se faz com guerra
Mas com cooperação e amizade
Com todos os povos da Terra

A paz universal não pode ser
Uma coisa distante e inacessível
Mas a esperança de acreditar
Que um mundo novo é possível

Poema: Abril é mês da Primavera

Quando chega a Primavera, toda a Natureza desperta do sono de Inverno, dos dias frios e escuros e tudo ganha nova vida com a luz do sol.
E isso tanto acontece no reino vegetal, como no reino animal, todos ganham uma vida nova. Foi para falar da Primavera que escrevi este poema.

Abril é mês da Primavera
Começa a natureza a despertar
E desperta em nós a alegria
Duma nova vida a começar

Chovem águas mil, em Abril
Há mil esperanças em cada olhar
São promessas de amor novo
Nos nossos corações a palpitar

Voam andorinhas numa pressa
Porque têm pressa de chegar
Levam e trazem cartas de amor
Que o amor, não pode esperar

É um regalo ver os campos
Enchem-se os olhos de cor
Passarinhos cantam melodias
Que são um hino ao amor

E os campos mais parecem
Lindos tapetes abertos no chão
Para deixar passar o meu amor
Amor, que eu trago no coração

E junto às águas dos ribeiros
Canta enamorado o rouxinol
Ele canta canções de amor
Do pôr até ao nascer do sol

Estão bonitas as searas
E prometem ano de fartura
Para compensar o lavrador
Do seu trabalho de vida dura

A natureza no mês de Abril
Faz o milagre da criação
Enche os campos de flores
E de amor o meu coração

Abram as portas e janelas
Deixem entrar a Primavera
Rejuvenesçam os corações
E o amor, volta ser como era

domingo, 25 de abril de 2010

Poema: Minorias, preconceito e tradição

Volta e meia vem a lume os problemas ligados às minorias, que apesar de o serem, existem, quer gostemos ou não delas, elas aí estão, são realidades que não se podem esconder. Mas as reações que vemos, são quase sempre filhas do desconhecimento geradoras de intolerâncias e então, agitam-se os medos, clama-se pela tradição e o preconceito levanta muros mentais, para descanso das nossas consciências. Sobre as minorias eu fiz este poema.

A hipocrisia e o preconceito
Vivem agarrados à tradição
São geradores de intolerância
Condenam uns, e outros não

Só as maiorias aprovam as leis
Elas representam a normalidade
Decidem da vida das minorias
Que estão sujeitas à sua vontade

Todos os cidadãos são iguais
Perante a lei da Constituição
Não podem ser discriminados
Pela raça, sexo ou religião

Há 50 anos muitas mulheres
Foram atiradas para a lama
Por terem ido antes de tempo
Com os namorados p'ra cama

O preconceito as condenou
Atirou-as para a prostituição
Até as familias as empurraram
Não lhes deram a salvação

Se o preconceito mandasse
Como nesse tempo mandava
Aquilo que vemos hoje por aí
Poucas ou nenhuma escapava

São faces da mesma moeda
Os dois actores da prostituição
O preconceito condena um
Mas por hipocrisia, o outro não

O casamento do mesmo sexo
Apenas aos dois diz respeito
Mas a maioria continua agarrada
À tradição e ao preconceito

Esta realidade não é de hoje
Vem do princípio da humanidade
Não é por fecharmos os olhos
Que deixa de ser uma realidade

terça-feira, 20 de abril de 2010

Poema: Eugénio Salvador, aniversariante de Março

Eugénio Salvador foi um exemplo de dedicação ao teatro, ele representou até morrer, pena é, que os amantes do teatro o tivessem esquecido tão rapidamente, pois ele era figura sempre presente nas revistas do Parque Mayer, tinha o papel de compére, mas nunca foi um actor popular, como António Silva ou Vasco Santana, talvez porque não tenha entrado nos filmes que eles entraram. Aqui fica a evocação.

Homem de baixa estatura
No teatro ele foi grande actor
Fazia de compére nas revistas
Chamava-se Eugénio Salvador

Nasceu em Março, em Lisboa
Este grande actor, pequenino
Como Charlot e Cantinflas
Ele foi um grande dançarino

Apesar de não ser muito alto
Era homem de muita genica
Antes de trabalhar no teatro
Ele foi jogador no Benfica

Seu pai era empresário de teatro
E filho de peixe, sabe nadar
Estudou dança no Conservatório
E na revista, ele não podia faltar

Na mudança dos cenários
Vinha Salvador nos divertir
Inventava muitas anedotas
Que eram de morrer a rir

Mais de 100 revistas, ele fez
Cala o Bico e Ver ouvir e Calar
Esperteza saloia e Lisboa Nova
Em muitas outras havia de entrar

Entrou em "Mulher de Sonho"
E "Não batam mais no Zézinho"
Quando morreu ficou esquecido
Salvador merecia mais carinho

Quem não é um actor popular
O público depressa o esquece
A Câmara deu-lhe nome de rua
Pois Salvador bem o merece

Parabéns aos aniversariantes
Do mês de Março marçagão
Mês que traz a Primavera
Mas nós queremos é o Verão

domingo, 11 de abril de 2010

Poema: Camilo Castelo Branco, aniversariante de Março

Neste mês de Março, a minha homenagem vai para um aniversariante brilhante, um dos maiores romancistas portugueses, que deixou larga obra sobre a vida na sociedade desse tempo e que se chamou Camilo Castelo Branco.

Camilo Castelo Branco
Ficou órfão de pai e mãe
Nasceu em Lisboa em 1825
No mês de Março também

Eterno insatisfeito com a vida
Muitos tombos na vida deu
Criado com uma tia e uma irmã
Entre Lisboa, Vila Real e Viseu

Educado por padres de província
Leu autores clássicos e latinos
Cursou Medicina, mas fez Direito
E na boémia foi um valdevinos

Casou, com apenas 16 anos
Fruto duma precoce paixão
Teve amores tumultuosos
Foram amores de perdição

Publicou cartas nos jornais
Em linguagem desbragada
E mais duma vez lhe deram
Um enxerto de bengalada

Apaixonou-se por Ana Plácido
Em solteira e depois de casada
Entrou no seminário sem vocação
E saiu, para raptar a sua amada

Preso na Relação do Porto
Conheceu lá o Zé do Telhado
Teve 2 filhos de Ana Plácido
Com quem, fez vida de casado

Carácter instável e irrequieto
Metido sempre em sarilhos
Escrevia a ritmo alucinante
Para dar de comer aos filhos

Saúdo os aniversariantes
Do mês Março marçagão
Das manhãs frias de Inverno
E das tardes quentes de Verão

Poema: A gordura já não é formosura

Acaba o Inverno, vem a Primavera a prometer férias e praia, há uma corrida aos ginásios e às dietas, para curar os excessos do Inveno prolongado. Todos querem dar ao corpo, aquilo que gostamos de ver nos outros, porque a gordura já deixou de ser formosura, nesta sociedade da "eterna juventude" e para muitos a gordura é um sinal de velhice.
Mas não se pode ter o melhor de dois mundos, fazer o gosto à boca e fazer o gosto ao espelho, há que escolher. Mas para além das aparências, há também outra razão, ainda mais importante, que é ter saúde e ela depende em grande parte, da alimentação e do exercício, que hoje, fazemos cada vez menos.

Dantes o gordo era formoso
E a gordura era formosura
Dizíamos nós para desculpar
Quem abusava da doçura

Não se chama gordo ao gordo
Diz-se, tem excesso de peso
Ou duma forma mais elegante
É um pouco forte, ou obeso

Mas chamar forte é enganador
O que é forte é bom e durável
E quem tem excesso de peso
Não tem uma vida saudável

Na sociedade da abundância
Toda a fartura se consome
Nós somos ricos de tudo
Mas de tudo, nós temos fome

Comemos mais para matar
Esta nossa fome secular
Aquilo que se come a mais
Só serve para nos engordar

Estes novos modos de vida
Fizeram da vida o que ela é
Passamos a vida sentados
E ninguém dá um passo a pé

Quando o corpo pesa mais
Mais peso, temos de carregar
Surgem problemas na coluna
Há dores e cansaço no andar

Cresceu à volta da gordura
O grande negócio das dietas
Prometem que sem exercício
Podem ter corpos de atletas

Não quero melindrar ninguém
Cada qual come o que quer
Comer demais nunca foi bom
P´ró o homem, nem p'rá mulher

Poema: Que fizeste à liberdade?

Chegados a mais um ano, depois do 25 de Abril de 1974, apetece olhar para todos estes anos passados e fazer um balanço, do que se fez e do que ficou por fazer. Neste poema eu interrogo-me do caminho iniciado e dos desvios de rota que nos levam a um passado ou a um futuro que não queremos. É isso que transparece deste meu olhar sobre o 25 de Abril, que agora comemoramos.

Que fizeste à liberdade ?
Oh Grândola vila morena?
Que o povo da tua cidade
Já não é, quem mais ordena

Já não há amigos nas esquinas
E nos rostos, não há igualdade
Quando se instala a competição
Não há lugar à fraternidade

Que fizeste à esperança, povo?
Desse prometido lugar ao sol
Adormeceram-te a ver televisão
Com novelas e jogos de futebol

Os novos-ricos fizeram fortuna
Enriqueceram da noite pró dia
Foi o tempo do fartar vilanagem
E chamaram a isto, democracia

Promoveram os grafittis a arte
E riscaram as paredes da cidade
E em nome da democracia
Riscaram a própria liberdade

Temos dois milhões de pobres
A tradição, ainda é o que era
Aumentaram as desigualdades
E os pobres, continuam à espera

A corrupção tomou conta
De grandes e pequenos
E da nossa democracia
Resta cada vez menos

Encantado com o consumo
Tu entraste na competição
Tu nunca mais aprendes ó povo?
Que a tua força, está na união!

Não se fazem democracias
Sem a participação dos povos
Democracias sem democratas
É fazer omoletes, sem ovos

domingo, 28 de março de 2010

Poema: Ninguém rouba o leito ao rio

Passado um mês depois das cheias da Ilha da Madeira, aproveitei o tempo para reflectir sobre a tragédia. Este poema, vem em certa medida abordar a relação do homem com a Natureza. O homem tem afrontado muitas vezes as forças da Natureza, indo para além do razoável e depois a Natureza cobra o seu preço, trazendo a morte e a destruição. Os erros só são maus, se não aprendermos nada com eles.

Ninguém rouba,o leito ao rio
Porque o rio, não vai deixar
O rio cala, mas não consente
O que perdeu, ele vai buscar

Os erros pagam-se caros
Porque são becos sem saída
Eles obrigam-nos a voltar atrás
Para salvarmos a própria vida

Quem constrói em leito de cheia
Arrisca a vida, em tal ousadia
Porque o rio, não deixa impune
Quem ousou desafiá-lo um dia

Quando o rio galga a margem
Dizem que o rio enlouqueceu
E acusam o rio de selvagem
Porque foi buscar, o que é seu

Chove muito e o rio cresce
Espalha a morte e a destruição
Dizem que o rio é traiçoeiro
É um selvagem sem coração

Não se engana a Natureza
Como o homem sempre faz
Quando engana outros homens
Ele semeia a guerra e não a paz

O rio é um bem para todos
Precisamos dele para viver
Se o soubermos respeitar
Ele até nos sabe obedecer

O rio é uma fonte de vida
E até nos ensina a nadar
Mas não deixa sem castigo
Quem não o sabe respeitar

O rio rega e fertiliza os campos
Mata a sede e produz energia
E se o soubermos respeitar
Ele vive connosco em harmonia

sábado, 6 de março de 2010

Poema: Simone de Oliveira, aniversariante de Fevereiro

A minha homenagem deste mês vai para Simone de Oliveira, grande artista da canção e do teatro que nos tem encantado na sua longa carreira artística.
Não ficam esquecidas outras figuras públicas, que também fazem anos este mês, pois é minha ideia falar delas no próximo ano, mas será uma de cada vez.
Quero por isso endereçar aqui, os meus parabéns a todos aqueles que fizeram anos no mês de Fevereiro.
Parabéns!

Simone de Oliveira nasceu
Em Fevereiro, mês do Carnaval
Foi vedeta da canção ligeira
Rainha da Rádio em Portugal

Cantou "Glória glória aleluia"
E "Sempre que Lisboa canta"
Poemas de Torga e de Pessoa
E versos de Florbela Espanca

Em "Esta Lisboa que eu amo"
Cantou Música no Coração
Com a canção "Sol de Inverno"
Ganhou o Festival da Canção

Ela cantou tantas cantigas
E os seus êxitos foram tantos
Cantou "A Desfolhada"
Poema de Ary dos Santos

Cantava com tanta força
Que um dia perdeu a voz
Fez teatro e telenovelas
Para encanto de todos nós

Entrou em teatro de Revista
Quando havia revista no Parque
Simone cantou "A Banda"
Escrita pelo Chico Buarque

Simone de Oliveira é artista
Com muita garra e muito brio
No teatro de Filipe La Féria
Fez "Passa por mim no Rossio"

Fez Vila Faia e Roseira Brava
E fez o Piano Bar na televisão
Cantou e foi artista de teatro
Simone fez tudo com paixão

Parabéns aos aniversariantes
De Fevereiro, mês do Carnaval
Brinquem todos, sem exageros
Não vá alguém, levar a mal

Poema: Marco Paulo, aniversariante de Janeiro

É minha vontade prestar aqui homenagem às figuras públicas que fazem anos neste mês. Para além do apreço que eles nos merecem, eles fazem parte do nosso imaginário colectivo e marcaram de algum modo as nossas vidas.
Aqui vai a minha homenagem que é também extensível a todas as pessoas que nasceram neste mês de Janeiro.
Parabéns!

Ele nasceu no Alentejo
No concelho de Mourão
É o cantor Marco Paulo
Grande nome da canção

Foi disco de ouro e platina
De muitas das suas canções
Marco Paulo canta e encanta
E vende discos aos milhões

Canta "Ninguém, ninguém"
E a "Morena, morenita"
O "Coração maravilhoso"
E canta "Joana" e "Anita"

"Eu tenho dois amores
Que em nada são iguais "
Marco Paulo em Portugal
É o cantor que vende mais

Foi ao Festival da Canção
Com a canção "Sou tão feliz"
E canta "Nasci para cantar"
Porque o povo, assim o quis

Recebeu um disco de prata
Com o álbum "Sedução"
E com a "Flor sem nome"
Repetiu o mesmo galardão

Premiada com disco de ouro
A canção "Morena, morenita"
Voltou a bisar Disco de Ouro
A cantar a canção da "Anita"

Fez "Eu tenho dois amores"
Seu programa na televisão
Ele fez mais outro programa
Chamado "Música no Coração"

Parabéns aos aniversariantes
Cantem as Janeiras ou não
Tenham um bom Ano Novo
Com muito amor no coração

Poema: As mulheres querem-se bonitas

Neste mês de Março em que se celebra o Dia da Mulher, este poema é uma homenagem a todas as mulheres, bonitas e feias, porque todas são mulheres e devem merecer o nosso carinho.
Esta sociedade faz a apologia das mulheres mais belas, criando nas outras uma grande frustação, esta ideia tem de ser combatida e este poema, apesar de dizer que "as mulheres querem-se bonitas", tem uma palavra de apreço, para as que não tão belas e tenta desmistificar essa ideia.

Perdoem-me as mais feias
Mas a beleza é fundamental
Não devemos de comparar
Uma rosa com a flor do batatal

Perdoem-me as mais belas
Tão bonitas como actrizes
Mas nem sempre são elas
As mulheres mais felizes

Ser bela é uma grande ajuda
Mas também pode ser fatal
A beleza que atrai o bem
Também pode atrair o mal

Dois seios, bem cheios
Roliços e palpitantes
Fazem o homem atrevido
E as mulheres provocantes

Nádegas e pernas torneadas
Com seu andar ondulante
Levam o homem ao paraíso
Ali tão perto, num instante

As mulheres querem-se bonitas
Mas há também quem diga
Mulher bela é só para homens
Com mais olhos que barriga

Desenganem-se as mais belas
Que a beleza não dura sempre
E quando a velhice chegar
A decadência é mais deprimente

Não pensem as mulheres belas
Que têm todos os trunfos na mão
Porque nem sempre a beleza
Vem acompanhada pela razão

E as feias, não fiquem tristes
Que não irão ficar para tias
Desenvolvam outros dons
E não lhe faltarão, simpatias

Poema: A violência é um atentado à liberdade

Escrevi este poema para falar da violência doméstica. Esta realidade não é de agora, vem provavelmente desde o princípio da humanidade e chegou até aos nossos dias, porque tem sido tolerada e até aceite como "necessária" para manter a autoridade.
Este fenómeno da violência doméstica, que a maioria de nós julgava atingir só as mulheres, está a alargar-se e atinge também os homens, dizem as estatísticas que são quase 20% dos casos de violência doméstica.
O casamento sempre foi um luta pelo poder, que o amor conseguia diluir, mas as carências económicas ou afectivas acentuaram. Mas outras violências existem na nossa sociedade, toda ela muito violenta e que é preciso combater, para que a vida não se torne numa selva, onde impere a lei do mais forte.

Se um homem fala mais alto
Para manter a autoridade
É logo acusado de violência
Pelo resto da comunidade

Mas se um homem não diz nada
E cada um faz, aquilo que quer
Dizem que não tem personalidade
E até leva porrada da mulher

Perante tanta contestação
Que há-de um homem fazer?
Tanto é preso por ter cão
Como é preso, por não ter

O assunto, é demasiado sério
Para ser levado a brincar
Nós vemos, ouvimos e lemos
Mas continuamos a ignorar

São vítimas da violência
Crianças, mulheres e idosos
A violência é uma arma
Na mão dos poderosos

A violência dos tiranos
Persegue e tortura sem piedade
A violência é em toda a parte
Um atentado à liberdade

Para acabar com a tirania
Dos reis do império do medo
Denunciemo-los à sociedade
Em vez de guardar segredo

Lutemos, contra toda a violência
Em casa, na escola, na estrada
Em vez de fechar os olhos e dizer
Não sei, aqui? não se passa nada

Todos falam da violência do rio
Que destrói tudo à passagem
Mas ninguém fala da violência
Que as margens ao rio fazem

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Poema: Os amores imperfeitos

S. Valentim celebra o dia dos Namorados, pois este poema é dedicado aos divorciados. Os divórcios são hoje uma realidade, que não podemos ignorar, quer concordemos ou não, com eles.
Antes do 25 de Abril de 1974, havia poucos divórcios e os casamentos religiosos não o permitiam, mas a revisão da Concordata, veio permiti-lo. Há os que defendem a hipótese de voltar atrás, quando se erra e há os outros que defendem que o erro é para levar até à morte, como se a proibição do divórcio fosse um seguro de vida para os maus casamentos. Em tempos de rupturas, a sociedade acabará por encontrar novos equilibrios. Mas como dizia Camões: Mudam-se os tempos e mudam-se as vontades...
Este poema pretende falar desse novo estado civil: os divorciados.


Há o dia do Pai e da Mãe
E há o dia dos Namorados
Há o dia disto e daquilo, mas
Não há o Dia dos Divorciados

Há quem faça como a abelha
E passe a vida de flor em flor
Porque assim é que é viver
Porque assim é que é amor

Há quem veja no casamento
Boa ocasião para enriquecer
Mas como em tudo na vida
Ninguém joga, para perder

Vemos casamentos tão lindos
E tão cheios de contradições
Que mais parece um filme
Cheio de polícias e ladrões

Há quem procure no casamento
Mais que uma toca e um buraco
E veja no casamento uma mina
Onde vai poder encher o saco

Há casamentos tão bonitos
Que se desfazem numa hora
São como panelas de pressão
Que rebentam ou deitam fora

Alfaces, pepinos e tomates
Dão para fazer uma boa salada
Mas não se faz um casamento
Só com amor... e mais nada

Há casamentos que duram pouco
Dura o tempo que dura a festa
Mas depois é preciso lavar a loiça
E casamento assim? Não presta

Quem não se quer divorciar
Fique toda a vida solteiro
E se um dia resolver casar
Pense duas vezes, primeiro

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Poema: No meu tempo é que era bom

Este poema faz a abordagem dum tema, muito querido aos mais velhos,que é dizer que, o tempo deles, quando eram mais novos, é que era bom,mas, analisando bem as coisas, desse tempo vemos que não era assim tão bom.
Muitas vezes comparam esse tempo com os tempos de agora, que tem coisas melhores e coisas piores, mas parte dessa "maldicência" revelam um desajuste dos mais velhos aos novos tempos.

No meu tempo é que era bom
Diziam os velhos de outrora
Hoje, nós dizemos o mesmo
Aos nossos jovens, de agora

Que belos tempos foram esses
Que muitos de nós abandonámos
Tempo dos avós do pé descalço
Da pobreza e fome que passámos

Que havia de bom nesse tempo?
Éramos novos e havia ambição
Queríamos uma vida melhor
Que a vida, que tinhamos então

Já não vemos crianças na rua
Dizia-me um amigo preocupado
Elas estão fechadas em casa
E o computador, é o culpado

É preciso ensinar as crianças
A jogar a bola e ao pião
Tal como fazíamos na infância
Mas computadores? Isso não!!!

Pôr as culpas no computador
Essa é de bradar aos céus
É como querer, que toda a gente
Volte de novo, a usar chapéus

Há outras razões para isso
Basta olhar à volta e ver
Os casais quase não têm filhos
E não há condições para os ter

Onde estão as mães de hoje?
Trabalham para ajudar a família
Ajudam a pagar a casa e o carro
A creche, a escola e a mobília

Onde estão as ruas e os jardins ?
Os passeios que eram do peão?
Não há, estão cheios de carros
Então? Há mais culpados ou não?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Poema: Baile mandado da terceira idade

Falar da chamada terceira idade, ou dos idosos ou dos séniores que é tudo a mesma coisa para não lhe chamarmos velhos. Porque a velhice é vista como um tempo de decadência onde se perderam todas as razões para viver plenamente.
Para contrariar essa visão derrotista, eu pretendi abordar neste poema alguns dos aspectos marcantes da velhice que são: a tristeza, a solidão, a morte, as insónias, as doenças e o facto de se ser velho.
Tudo isso foi aqui focado mas duma forma optimista e dando novo alento aos vencidos da vida. Pois devemos viver até morrer e o melhor possível, porque muita da nossa velhice foi interiorizada e aceite por nós.

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Só os mortos não se mexem
E não vão a nenhum lado

Não vão a nenhum lado
Não vão a parte nenhuma
O gato tem sete vidas
E eu tenho apenas uma

Foi na semana passada
Que a minha sogra morreu
Antes ela que a filha
E antes a filha que eu

Casou o viúvo com a viúva
Para curtirem seu desgosto
Uma pedra ampara a outra
É sempre bom ter um encosto

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Se désse ouvidos à tristeza
Passava a vida amargurado

Passava a vida amargurado
E a tristeza não ia acabar
Se désse ouvidos à tristeza
Passava a vida a chorar

Tristezas não pagam dívidas
Nunca tal coisa aconteceu
Ninguém paga as minhas dívidas
As minhas dívidas, pago eu

Quem canta seus males espanta
Vamos lá dançar e cantar
Enquanto o pau vai e vem
Estão as costas a folgar

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Quem tem insónias dorme de dia
C’um olho aberto e outro fechado

Veio a insónia visitar-me
E pôs-se a contar a sua vida
Não preguei olho toda a noite
Passei uma noite mal dormida

Voltou de novo a espertalhona
Não liguei pus-me a cantar
Vieram os vizinhos do prédio
E mandaram-me todos calar

Contei-lhes o sucedido
Eles fartaram-se de rir
Dormi o resto da noite
E eles ficaram sem dormir

Toca a andar, toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Se já estão fartos de mim
Vou cantar para outro lado

Vou cantar para outro lado
Vou cantar para outra banda
Quem tem pernas para andar
Diga lá...porque não anda?

No campeonato da 3ª idade
Não há jogo nem jogadores
Neste jogo, ninguém joga
Todos se queixam com dores

Dói aqui e dói ali
Dói em cima e dói em baixo
Ninguém tem mais dores que eu
Desculpe…mas eu não acho

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Anda o tolo a apanhar chuva
E diz que não fica molhado

Está um frio de rachar
Quero de novo cá o Verão
Vou escrever ao S. Pedro
Não quero mais Inverno, não

Veio o Verão e está calor
Passo todo tempo aflito
Vou escrever ao S. Pedro
Vou dar o dito, por não dito

Muda o tempo e tenho dores
Se não muda, tenho também
A culpa será mesmo do tempo
Ou é da idade que a gente tem

Toca a andar toca a mexer
Não quero ver ninguém parado
Pensam os novos no futuro
E os velhos no passado

Vou fazer dieta de anos
Para a idade emagrecer
Fazer meio ano em cada ano
Para não envelhecer

Queria voltar a ser novo
Para fazer o que não fiz
Sabendo aquilo que sei hoje
Seria então, muito mais feliz

Quem não se poupa p'ra velhice
Chega a velho e velho está
Quem gasta tudo, o que tem hoje
Amanhã quer, mas já não há

Poema: Unisexo, é pró menino e prá menina

Vivêmos 50 anos um tempo demasiado parado, agarrados a preconceitos que tornaram as nossas vidas cinzentas, seguiu-se um período de revolução política que libertou muitos dos nossos sonhos e veio alterar os modos de vida.
A emancipação da mulher teve um aliado no pronto a vestir que rapidamente se impôs e ditou as suas leis. Todas essas mudanças, e o ritmo a que foram feitas, vieram baralhar as nossas referências. É esse tema que aqui é tratado neste poema.

Deu numa grande confusão
A emancipação feminina
Já quase não há distinção
Entre o menino e a menina

Com a moda do unissexo
As roupas, são todas iguais
Tudo é fabricado em série
Fabricar em série rende mais

Os rapazes usam calças
E as meninas, usam também
A mãe, usa as calças do pai
E o pai, usa as calças da mãe

Já quase não há diferenças
Entre a fêmea e o macho
Só despidos é que sabemos
Aquilo, que está por baixo

Cabelos curtos ou compridos
Tanto usam eles, como elas
Há cada vez menos diferenças
Entre os tachos e as panelas

Dantes, usavam elas brincos
Hoje, usam eles os manganões
Eles usam os brincos delas
Mas que grandes brincalhões

No passado, só ela se depilava
Hoje, também ele faz depilação
Se acabam com as diferenças
Também se acaba a atracção

Procura o homem na mulher
Aquilo que o homem não tem
Mas se ambos forem iguais
Ninguém, procura ninguém

Respeito e igualdade, sim!
Mas igualdade nos corpos? Não!
Continue a mulher a ser menina
E o homem continue a ser rapazão

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Poema: "Os saldos são uma loucura"

Numa sociedade consumista, todas as oportunidades para comprar mais, por menos dinheiro, são sempre benvindas, mas muitas vezes deparamos com saldos, que não são verdadeiros saldos e por isso, podem "saldar-se" por uma desilusão.
Mas na voragem do consumo, vende-se muito gato por lebre, os vendedores fazem o seu papel e os consumidores devem fazer o seu. Este poema retrata as situações com que deparamos em época de saldos.


Os saldos são uma loucura
Como estes, não me lembro
Os saldos começam em Janeiro
E só acabam em Dezembro

Está na hora de deitar fora
Todos os monos do armazém
Saldam-se peças com medidas
Que não servem a ninguém

Chegada a época dos saldos
Anda toda a gente numa fona
Todos a quererem comprar
Peças ao preço da uva mijona

Há quem fabrique para saldos
E venda muito, a muita gente
Produtos de baixa qualidade
A comprador, pouco exigente

Quem tem dinheiro não espera
E compra durante todo o ano
Muitas vezes, o barato sai caro
E os saldos, são um engano

Os saldos deveriam de ser
As sobras do fim da estação
Mas há fábricas a produzir
Para vender nesta ocasião

Escolha bem o seu artigo
No momento de comprar
O lojista diz que não troca
Mas é obrigado, só se esgotar

É a grande loucura dos saldos
A preços imbatíveis, arrasantes
Todos acham os preços loucos
Loucos? eram os preços antes

Os lojistas baixam os preços
Para bater a concorrência
Com tanta baixa e rebaixa
Um dia, ainda vão à falência

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Poema: "Vida de cão"

Falar da vida de cão é uma boa oportunidade para comparar a vida do cão e a vida do homem, que muitas vezes se confundem. O poema é uma visão ligeira sobre a vida do cão, mas que dá que pensar, quando pomos em paralelo com a vida do homem. Foi para chamar a atenção das semelhanças que eu fiz este poema.


O meu cão, não vai à escola
Não sabe ler, mas tem educação
Conheço pessoas analfabetas
Pessoas de baixa condição
Que até são mais educadas
Do que aquelas que lá vão


O meu cão, vive na barraca
Como vive qualquer cão
Há pessoas a viver em barracas
Tantas, que até mete impressão
Fazem as casas para os outros
Mas só para si…é que não


O meu cão, não tem carro
Telemóvel ou televisão
Coisa que toda a gente tem
Símbolos da nossa civilização
Todos a imitarem todos
Mesmo que em casa, falte o pão


O meu cão, não trabalha
Vive daquilo que lhe dão
Como muitos desempregados
Que vivem em exclusão
São novos para a reforma
Mas não arranjam patrão


O eu cão, não vota
Em nenhuma eleição
Não acredita em promessas
Como qualquer cidadão
Gosta mais duma soneca
E faz parte, da abstenção


O meu cão, não separa o lixo
Nem sabe o que é poluição
Também conheço pessoas
Que não fazem a separação
Deitam o lixo todo misturado
E até cospem para o chão


O meu cão, não é mentiroso
E nunca morde à traição
É um leal e fiel amigo
Como poucos homens são
Quanto mais conheço os homens
Mais amigo sou, do meu cão


O meu cão, não é rico
Mas é um rico cão
Gosta dos ricos e dos pobres
Sem qualquer distinção
Tão diferente dos homens
Que fazem discriminação


É tanta a coincidência
Que até faz confusão
Haver homens a viver
Tal e qual, o meu cão
Responda quem souber
Quem leva, vida de cão?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Poema: O português é muito desenrascado

Não somos um país atrasado por acaso, há razões que nos prendem a esse atraso. A desorganização das nossas vidas que é um mal, fez nascer em nós a "varinha mágica" que é o desenrascanço, e que nós, orgulhosamente, apontamos como virtude, mas eu diria que: só se desenrasca, quem se deixou enrascar. Como acabar com este ciclo vicioso?
Confrontando as nossas qualidades, com os nossos defeitos, para que os vejamos e os possamos emendar, mas será possível? É esse o objectivo deste poema.

O português é bombeiro
Das suas próprias aflições
Para desenrascar em Portugal
Somos quase dez milhões

É a desenrascar que nós somos
Dos melhores que há no mundo
Mas se não fosse a Europa
Este país, já tinha ido ao fundo

O desenrascanço e a cunha
São os maiores em Portugal
Um dia o desenrascanço
Vai ser Património Mundial

O português é homem de fé
Desenrascado quando calha
Mas com tanta desorganização
Já não há santo, que lhe valha

Viver neste país desorganizado
O português trabalha e sua
Enquanto houver um português
O desenrascanço, continua

Porque será que na Europa
Somos dos mais atrasados
Chicos Espertos não nos faltam
Que até são muito desenrascados

O português é desenrascado
Para mal dos nossos pecados
Muito do seu desenrascanço
É deixar os outros enrascados

Não tem hora de partir
Nem têm hora de chegar
Deixa tudo para a última hora
Para depois, desenrascar

Agora com a globalização
Temos que ganhar juízo
Se não nos organizamos
Desta vez, lá se vai o paraíso

Poema: 2009, a crise dum modo de vida insustentável

Este poema começa com versos de Camões "Erros meus, má fortuna..." para abordar uma realidade com que actualmente nos debatemos: a Crise. Bem sei que a Crise não é só nossa, mas com o mal dos outros, estamos nós mal.
Porque esta crise é global e ela veio pôr a nú a fragilidade da nossa economia e consequentemente das nossas vidas.
O poema faz uma abordagem das "loucuras" que fizemos no tempo da fartura e da nossa ilusão, que o futuro ia ser sempre assim, e afinal não é. A história da formiga e da cigarra volta a repetir-se.



Erros meus, má fortuna
Ou má cabeça simplesmente
Fizemos vidas impossíveis
Que a vida, não consente

Ninguém pode dar o salto
Maior que a perna que tem
Não se pode gastar tudo hoje
Pode fazer falta, amanhã

Quem não tem asas para voar
Só deveria de andar a pé
Todos querem ser iguais
Mas a vida, mostra que não é

Navegámos na crista da onda
Parecia dinheiro em caixa
Mas a vida, como a maré
Tanto sobe, como baixa

Provámos todos os excessos
Com o entusiasmo de criança
Julgámos ter o mundo na mão
Mas a vida, é feita de mudança

Vivêmos tempos de abundância
Tivemos o que nunca tivemos
Fizemos o que não devíamos
E o que devíamos, não fizemos

Não respeitámos os limites
Atrás da felicidade prometida
Sonhámos demasiado alto
E esquecemos a própria vida

O que importa não é a queda
Há que levantar e prosseguir
Dar passos certos e seguros
Para não voltarmos a cair

Agora para enfrentar a crise
Ninguém perca a esperança
Vamos começar tudo de novo
Como nos tempos de criança

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Poema: "As alcunhas que nos põem"

Muita gente pensará que tratar o tema das alcunhas não tem nada de poético.
De facto o tema em si não é poético, mas permite ver com outros olhos, aquilo que parece insignificante.
A alcunha depois da resistência inicial da vítima é interiorizada e automatizada de modo que os "alcunhados" já nem dão por ela, é por si só um fenómeno social muito persistente e acompanha a vida do alcunhado até à sua morte, passando muitas vezes de pais para filhos.

Pôr uma alcunha a alguém
É como pôr uma tatuagem
Quer nós queiramos ou não
Ela muda a nossa imagem

A alcunha é-nos imposta
Só a tatuagem é consentida
Uma vez, a alcunha posta
É para o resto da nossa vida

A alcunha é democrática
Tem a aceitação da maioria
Só o próprio nunca é ouvido
Estranha forma de democracia

A escolha da alcunha faz-se
Pela profissão ou aparência
Pode ser um tique, uma mania
Ou apenas uma deficiência

Ela faz parte da identidade
Duma terra e duma região
Passa de pais para filhos
Ela faz parte da tradição

Zé Maluco, não tem juízo
Zé Barbeiro corta cabelo
Zé Mudo, não diz nada
E Zé Careca, não tem pêlo

Tira-picos, Tira-dentes, Tira-olhos
Batata, Batatinha, Batateiro
Mata-burros, Mata-cães, Mata-gatos
Pé-de-chumbo, Pé-de-vento, Pé ligeiro

Muitos políticos são vítimas
Da chacota desta atoarda
Se não podes bater no burro
Bate com força na albarda

Põem-se alcunhas por gozo
Ou simplesmente por pirraça
Todos acham graça à alcunha
Só a vítima...não acha graça

Poema: "A geração XXL"

Numa sociedade que vive em permanente competição é frequente vermos os mais velhos a criticar os mais novos e os mais novos a criticarem os mais velhos. Este poema faz um retrato da vida das novas gerações cheias de rebeldia, prisioneiras dum consumismo que não comandam e que procuram na violência e no desregramento dos comportamentos, apresentar uma liberdade que não têm.
Uma geração criada na abundância e no facilitismo, tem dificuldade em lidar com fenómenos que lhe são externos e que não controlam. Eles nasceram no Céu mas estão a viver no Inferno, Terão eles força para se libertar?


Chamaram-lhe geração rasca
Do facilitismo e do deixa-andar
Dos chumbos a matemática
Da iliteracia e do abandono escolar

Geração dos Mac Donald's
E do telemóvel na escola
Da pizza e do hamburguer
Da cerveja e da Coca-Cola

Geração do telemóvel
Para jogar e namorar
Para exibir e divertir
Só não dá, para estudar

Geração do walkman
Da consola e do MP3
Das discotecas e concertos
Futura geração da surdez

Geração dos grafittis
Do percing e da tatuagem
Geração da roupa de marca
Da etiqueta e da imagem

Geração dos jogos da bola
Desportistas de bancada
Da claque da provocação
Do insulto e da porrada

Geração dos call-centers
Do recibo verde, precário
Do contrato a prazo certo
Sem futuro, nem horário

Geração da velocidade
Na estrada e na Internet
Dão cartas aos mais velhos
Com eles, ninguém se mete

Geração da abundância
Com a gordura à flor da pele
Geração gorda e anafada
Esta é a geração xis xis éle

Poema: "Ontem, hoje e amanhã"

Há 40 passámos predominava a sociedade rural e de repente passamos a ser quase todos urbanos. Hoje olhamos para o passado com algum saudosismo, ao compararmos o antes e o depois. As mudanças foram tão rápidas e tão grandes, que a maior parte de nós, sente dificuldade em lidar com as novas situações, e isso torna-nos inseguros, muitas vezes desejámos voltar à segurança do passado conhecido, mas a vida da humanidade faz-se para a frente e não para trás.
As mudanças nas nossas vidas são tão rápidas, que sentimos dificuldade em acompanhá-las. É disso que fala este poema.


Ontem, cultivávamos os campos
Produzia-se mais e havia fome
Hoje, os campos não se cultivam
Há muito, e toda a gente consome

Ontem, tirávamos um curso
Que durava, para a vida inteira
Hoje, estuda-se ao longo da vida
Já não pode ser doutra maneira

Ontem, casava-se só uma vez
E divórcios, poucas vezes havia
Hoje, o casamento é a prazo
E desfaz-se, da noite para o dia

Ontem, o trabalho era de sol a sol
Só tinhamos a noite para conviver
Hoje, temos mais tempo livre
Mas passamos o tempo a correr

Ontem, passeávamos no jardim
Para ver as árvores e as flores
Hoje vamos ao shopping passear
A nossa gula de consumidores

Ontem, ninguém ficava a dever
E a palavra dada, era cumprida
Hoje, ninguém paga a ninguém
E a honra, é só coisa fingida

Ontem, fazia-se tudo bem feito
E tudo, durava uma eternidade
Hoje, faz-se para durar pouco
Tudo, é precário nesta sociedade

Ontem, havia muitos sem abrigo
Sem eira nem beira e sem comer
Hoje, juntaram-se a todos esses
Os sem tempo, sempre a correr

E amanhã como será a vida?
Como é que o futuro vai ser?
Temos tudo para viver a vida
Mas falta-nos tempo para viver.