domingo, 25 de abril de 2010

Poema: Minorias, preconceito e tradição

Volta e meia vem a lume os problemas ligados às minorias, que apesar de o serem, existem, quer gostemos ou não delas, elas aí estão, são realidades que não se podem esconder. Mas as reações que vemos, são quase sempre filhas do desconhecimento geradoras de intolerâncias e então, agitam-se os medos, clama-se pela tradição e o preconceito levanta muros mentais, para descanso das nossas consciências. Sobre as minorias eu fiz este poema.

A hipocrisia e o preconceito
Vivem agarrados à tradição
São geradores de intolerância
Condenam uns, e outros não

Só as maiorias aprovam as leis
Elas representam a normalidade
Decidem da vida das minorias
Que estão sujeitas à sua vontade

Todos os cidadãos são iguais
Perante a lei da Constituição
Não podem ser discriminados
Pela raça, sexo ou religião

Há 50 anos muitas mulheres
Foram atiradas para a lama
Por terem ido antes de tempo
Com os namorados p'ra cama

O preconceito as condenou
Atirou-as para a prostituição
Até as familias as empurraram
Não lhes deram a salvação

Se o preconceito mandasse
Como nesse tempo mandava
Aquilo que vemos hoje por aí
Poucas ou nenhuma escapava

São faces da mesma moeda
Os dois actores da prostituição
O preconceito condena um
Mas por hipocrisia, o outro não

O casamento do mesmo sexo
Apenas aos dois diz respeito
Mas a maioria continua agarrada
À tradição e ao preconceito

Esta realidade não é de hoje
Vem do princípio da humanidade
Não é por fecharmos os olhos
Que deixa de ser uma realidade

terça-feira, 20 de abril de 2010

Poema: Eugénio Salvador, aniversariante de Março

Eugénio Salvador foi um exemplo de dedicação ao teatro, ele representou até morrer, pena é, que os amantes do teatro o tivessem esquecido tão rapidamente, pois ele era figura sempre presente nas revistas do Parque Mayer, tinha o papel de compére, mas nunca foi um actor popular, como António Silva ou Vasco Santana, talvez porque não tenha entrado nos filmes que eles entraram. Aqui fica a evocação.

Homem de baixa estatura
No teatro ele foi grande actor
Fazia de compére nas revistas
Chamava-se Eugénio Salvador

Nasceu em Março, em Lisboa
Este grande actor, pequenino
Como Charlot e Cantinflas
Ele foi um grande dançarino

Apesar de não ser muito alto
Era homem de muita genica
Antes de trabalhar no teatro
Ele foi jogador no Benfica

Seu pai era empresário de teatro
E filho de peixe, sabe nadar
Estudou dança no Conservatório
E na revista, ele não podia faltar

Na mudança dos cenários
Vinha Salvador nos divertir
Inventava muitas anedotas
Que eram de morrer a rir

Mais de 100 revistas, ele fez
Cala o Bico e Ver ouvir e Calar
Esperteza saloia e Lisboa Nova
Em muitas outras havia de entrar

Entrou em "Mulher de Sonho"
E "Não batam mais no Zézinho"
Quando morreu ficou esquecido
Salvador merecia mais carinho

Quem não é um actor popular
O público depressa o esquece
A Câmara deu-lhe nome de rua
Pois Salvador bem o merece

Parabéns aos aniversariantes
Do mês de Março marçagão
Mês que traz a Primavera
Mas nós queremos é o Verão

domingo, 11 de abril de 2010

Poema: Camilo Castelo Branco, aniversariante de Março

Neste mês de Março, a minha homenagem vai para um aniversariante brilhante, um dos maiores romancistas portugueses, que deixou larga obra sobre a vida na sociedade desse tempo e que se chamou Camilo Castelo Branco.

Camilo Castelo Branco
Ficou órfão de pai e mãe
Nasceu em Lisboa em 1825
No mês de Março também

Eterno insatisfeito com a vida
Muitos tombos na vida deu
Criado com uma tia e uma irmã
Entre Lisboa, Vila Real e Viseu

Educado por padres de província
Leu autores clássicos e latinos
Cursou Medicina, mas fez Direito
E na boémia foi um valdevinos

Casou, com apenas 16 anos
Fruto duma precoce paixão
Teve amores tumultuosos
Foram amores de perdição

Publicou cartas nos jornais
Em linguagem desbragada
E mais duma vez lhe deram
Um enxerto de bengalada

Apaixonou-se por Ana Plácido
Em solteira e depois de casada
Entrou no seminário sem vocação
E saiu, para raptar a sua amada

Preso na Relação do Porto
Conheceu lá o Zé do Telhado
Teve 2 filhos de Ana Plácido
Com quem, fez vida de casado

Carácter instável e irrequieto
Metido sempre em sarilhos
Escrevia a ritmo alucinante
Para dar de comer aos filhos

Saúdo os aniversariantes
Do mês Março marçagão
Das manhãs frias de Inverno
E das tardes quentes de Verão

Poema: A gordura já não é formosura

Acaba o Inverno, vem a Primavera a prometer férias e praia, há uma corrida aos ginásios e às dietas, para curar os excessos do Inveno prolongado. Todos querem dar ao corpo, aquilo que gostamos de ver nos outros, porque a gordura já deixou de ser formosura, nesta sociedade da "eterna juventude" e para muitos a gordura é um sinal de velhice.
Mas não se pode ter o melhor de dois mundos, fazer o gosto à boca e fazer o gosto ao espelho, há que escolher. Mas para além das aparências, há também outra razão, ainda mais importante, que é ter saúde e ela depende em grande parte, da alimentação e do exercício, que hoje, fazemos cada vez menos.

Dantes o gordo era formoso
E a gordura era formosura
Dizíamos nós para desculpar
Quem abusava da doçura

Não se chama gordo ao gordo
Diz-se, tem excesso de peso
Ou duma forma mais elegante
É um pouco forte, ou obeso

Mas chamar forte é enganador
O que é forte é bom e durável
E quem tem excesso de peso
Não tem uma vida saudável

Na sociedade da abundância
Toda a fartura se consome
Nós somos ricos de tudo
Mas de tudo, nós temos fome

Comemos mais para matar
Esta nossa fome secular
Aquilo que se come a mais
Só serve para nos engordar

Estes novos modos de vida
Fizeram da vida o que ela é
Passamos a vida sentados
E ninguém dá um passo a pé

Quando o corpo pesa mais
Mais peso, temos de carregar
Surgem problemas na coluna
Há dores e cansaço no andar

Cresceu à volta da gordura
O grande negócio das dietas
Prometem que sem exercício
Podem ter corpos de atletas

Não quero melindrar ninguém
Cada qual come o que quer
Comer demais nunca foi bom
P´ró o homem, nem p'rá mulher

Poema: Que fizeste à liberdade?

Chegados a mais um ano, depois do 25 de Abril de 1974, apetece olhar para todos estes anos passados e fazer um balanço, do que se fez e do que ficou por fazer. Neste poema eu interrogo-me do caminho iniciado e dos desvios de rota que nos levam a um passado ou a um futuro que não queremos. É isso que transparece deste meu olhar sobre o 25 de Abril, que agora comemoramos.

Que fizeste à liberdade ?
Oh Grândola vila morena?
Que o povo da tua cidade
Já não é, quem mais ordena

Já não há amigos nas esquinas
E nos rostos, não há igualdade
Quando se instala a competição
Não há lugar à fraternidade

Que fizeste à esperança, povo?
Desse prometido lugar ao sol
Adormeceram-te a ver televisão
Com novelas e jogos de futebol

Os novos-ricos fizeram fortuna
Enriqueceram da noite pró dia
Foi o tempo do fartar vilanagem
E chamaram a isto, democracia

Promoveram os grafittis a arte
E riscaram as paredes da cidade
E em nome da democracia
Riscaram a própria liberdade

Temos dois milhões de pobres
A tradição, ainda é o que era
Aumentaram as desigualdades
E os pobres, continuam à espera

A corrupção tomou conta
De grandes e pequenos
E da nossa democracia
Resta cada vez menos

Encantado com o consumo
Tu entraste na competição
Tu nunca mais aprendes ó povo?
Que a tua força, está na união!

Não se fazem democracias
Sem a participação dos povos
Democracias sem democratas
É fazer omoletes, sem ovos