sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Poema: A corrida ao Ouro


Para quem vive em Portugal, já se apercebeu dum fenómeno novo, que invadiu as nossas vilas e cidades. Todos os dias abrem lojas de compra de ouro. Sobre o fenómeno eu escrevi este poema.

A CORRIDA AO OURO

Dantes chamavam-lhe penhores
Hoje, são casas de compra de ouro
Dantes só ia lá, quem precisava
Hoje, são eles a fazer o chamadouro

Compram-nos o ouro e as pratas
E compram as jóias da família
E quando o ouro, se nos acabar
Também nos compram a mobília

Depois de termos vendido o ouro
Para pagar a crise e as mordomias
Vão-se os aneis e ficam os dedos
Ficamos pobres e de mãos vazias

Com o dinheiro que o patrão paga
Nós comprámos ouro, pró segurar
Mas o ouro, tal como o dinheiro
A mão que o deu, o torna a levar

Neste Natal vai encolher o subsídio
Ficamos com metade do dinheiro
Mas as grandes fortunas não pagam
Para não fugirem p'ró estrangeiro

Aqui, só os pobres pagam a crise
Porque estão habituados a pagar
Os ricos, ficam sempre de fora
Para a pobreza, não aumentar

O patriotismo dos ricos é surdo
Não tem ouvidos para escutar
Como o dinheiro, não tem Pátria
Eles põem o dinheiro a vadiar

O dinheiro adora a boa vida
E quer crescer, sempre mais
Adora off-shores e casinos
Vive bem em paraísos fiscais

Mas nesta economia liberal
Onde o paraíso não é eterno
As promessas de felicidade
Acabam sempre no Inferno

António Silva

domingo, 4 de setembro de 2011

Poema: Bocage, aniversariante de Setembro

Aqui deixo um poema dedicado a todos os aniversariantes de Setembro e ao grande poeta Bocage, aqui presto a minha homenagem neste poema à sua vida e obra.


Nasceu em Setúbal um poeta
Não foi Camões, mas quase
Ele fazia anos em Setembro
José Maria Barbosa Bocage

Teve uma infância infeliz
Ficou órfão em pequenino
Tinha talento como poeta
O famoso, Elmano Sadino

Correu mundo e aprendeu
Na boémia as lições da vida
Ninguém sabe, se estudou
Mas tinha a lição bem sabida

Juntava-se com os amigos
Todos os dias no café Nicola
Foi redactor e foi tradutor
Andou concerteza na escola

Foi um poeta da liberdade
Criticou tudo, a toda a hora
"Liberdade onde estás?"
Diz-me: "Quem te demora?"

Na poesia erótica e satírica
Os seus versos tinham lumes
Foi preso por Pina Manique
"Por desordenar os costumes"

Criticou os poderosos e o Papa
O novo-riquismo e até a religião
Para lhe moderarem as críticas
Foi entregue à Santa Inquisição

Prenderam-no num convento
Como um leproso em lazareto
Na prisão, ainda escreveu mais
Foi pior a emenda que o soneto

Parabéns aos aniversariantes
De Setembro,mês das vindimas
Voltem a fazer anos, pró ano
Que eu volto, com mais rimas